Saltando em Divisa

Na estrada rumo a Salto da Divisa ficaram para trás o rebanho de burrinhos, a porca e seus doze filhotes, a siriema, urubus aos montes, o pássaro e seu voô rasante. Imagens que enchiam os olhos dos viajantes cutias. Aos saltos, passando por inúmeros mata burros, chegamos a divisa de Minas com Bahia. Lá, fomos recebidos por “preta, preta, Pretinha”, liderança atuante na prefeitura. À tardinha, iniciamos uma oficina de brincadeiras e de contação de histórias. Esta ocorrera no PET (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e reuniu 33 educadores e monitores do município. A oficina trouxe lembranças da infância dos participantes: a boneca deixada no telhado, o subir no pé de laranja ao ser perseguido pelo avô, a mangada na cabeça, o desligar do padrão de luz, o equilibrar na bicicleta, a brincadeira de cientista, as histórias da avó baiana sobre Lampião e Maria Bonita, o brincar de duro e mole (pique cola).

Por meio de Brincadeiras Cantadas, incentivou-se a abertura da criatividade e o desenvolvimento motor. A casa abriu-se a histórias cantadas fazendo brilhar os olhos de pessoas pegas pela palma da mão. Com os participantes, aprendemos sobre o Boi de Janeiro, o Boi Duro e seus personagens: Maria Manteiga, Caçador, Mulinha de Ouro, Loba e Pai da Mata. A troca constante, abertura ao diálogo com o outro, ampliou e enriqueceu nossa compreensão acerca do Vale, fazendo saltar as divisas outrora desconhecidas.

A apresentação do espetáculo Na Roda fora divulgado em carros, escolas, sendo o convite reforçado em entrevista que demos a rádio local. Na arena da praça, tendo como fundo a orla do Jequitinhonha e um por do sol único, o povaréu se aglomerou somando aproximadamente 1200 pessoas. As crianças, empolgadas, não conseguindo conter a ansiedade, ultrapassaram o limite da corda florida indo direto ao nosso encontro, difícil  era contê-los.

O Capeta Paraguaio foi pego de supetão passando aperto diante dos aspirantes a capetinhas. Para muitos, esta foi a  primeira vez que assistiam a um espetáculo teatral.   Assim, partimos levando a saudade estampada no peito e a certeza de querer voltar...

Relatos de Marielle