Quem canta seus males espanta!

Depois de um intenso dia de trabalho, duas apresentações e uma estrada de terra um tanto tortuosa, fomos ao encontro do grupo da terceira idade de Palmópolis, já no começo da noite, com as pálpebras pesadas e o corpo implorando por uma trégua.

Porém, foram muitas surpresas! A primeira foi chegar ao local e ver uma multidão de gente sentada numa grande roda, cada um contribuindo um pouco para o burburinho que preenchia de trivialidades o grande salão. Este ambiente de calmaria era apenas a vontade reprimida que eles estavam segurando, tremendo as pernas de vontade de se levantar das suas cadeiras e dançar como eles sabiam fazer com uma maestria bonita, de quem canta com tanta naturalidade, que a voz é lapidada pelo tempo e não pela técnica.

Quando nos apresentamos com nossos nomes, eles ainda estavam tímidos, como nós. Com certeza temiam o mesmo que eu: que esse encontro fosse enfadonho, sem energia. De repente surge o sanfoneiro, e depois dele uma variedade de instrumentos. De onde antes se via apenas um violão surrado e um experiente cavaquinho, apareceram como por encanto dois triângulos e uma zabumba!  Daí por diante a cantoria comeu solta e, novamente, fiquei surpreendido com o fôlego daqueles senhores e daquelas senhoras tão cheios de vida e com uma energia que faz o nosso corpo mexer inevitavelmente.

Tentei até acompanhar a zabumbeira, mas suas mãos eram tão ágeis que foi impossível entender o que ela fazia. Principalmente porque enquanto ela tocava, seu corpo acompanhava o ritmo na grande roda, dessa vez com todos de pé e eu muitas vezes tive que sair da folia pra descansar, pois parecia que eles não iam parar nunca.

Resultado: o intenso dia de trabalho, a estrada e o corpo cansado, pedindo uma trégua, deram lugar a uma reconfortante sensação de renovação, tanto corporal quanto espiritual, sem dúvida...

... se todos os dias a gente pudesse lavar a alma assim, com certeza o mundo seria bem melhor!  

Relatos de Hugo