Parte dos nossos objetivos ao fazer essa turnê pelo Vale do Jequitinhonha é poder levar o teatro a lugares e pessoas que o desconheçam (ou que tenham pouco acesso), democratizando, ainda que pontualmente, essa arte com tamanho potencial transformador – tanto para quem faz quanto para quem assiste. No caminho para Palmópolis viemos brincando no carro, conversando sobre a possibilidade de sermos o primeiro grupo de teatro a se apresentar nas terras de cá. Afinal, além da distância, as estradas que ainda não são asfaltadas entregam o ar de precariedade que também se faz presente na cidade.
Essa sensação de se apresentar para aqueles que praticamente desconhecem o teatro é muito motivadora. Mas aqui vivemos um sentimento diferente. Estava tudo marcado para começar às 16h30. Quando o relógio já beirava este horário, a imensa praça de eventos da cidade estava vazia, com no máximo dez crianças que ou estavam sentadas diante da corda aguardando o teatro, ou estavam ao lado brincando de futebol. Na busca de público, eu e Mariana saímos pela cidade, no carro, convidando todos os moradores que víamos na rua para assistir o recém chegado grupo de teatro que se apresentaria na cidade. Ficamos impressionadas com o ar pacato, desmotivado e desinteressado das pessoas. Nenhuma delas levantou-se e disse: "claro, vou agora!". Ao contrário, as desculpas foram inúmeras: “vou tomar banho primeiro e vou”, “vou só esperar fulana e vou”, “sozinha eu não vou” e por ai vai.... Voltamos para a praça de eventos tristes pelas respostas que tivemos nesse caminho.
É muito estranha a sensação de você estar ali, pronto para apresentar algo diferente do que aquelas pessoas estão acostumadas a ver, algo que veio de longe e a comodidade das pessoas não deixar que elas façam algo que não seja o habitual. Ficamos aqui conspirando sobre tudo que poderia ter contribuído para isso, desde problemas na divulgação local até desconhecimento e desinteresse das pessoas. Nos perguntamos também se caso a divulgação tivesse sido melhor as pessoas sairiam de casa. Tenho minhas dúvidas... Para nós é muito frustrante pensar que o espetáculo poderia ter sido assistido por um público muito maior. O teatro é uma troca que se dá com a interação entre ator e público. E nossa proposta ao estar aqui é de viabilizar essa troca com o máximo de pessoas possíveis.
A apresentação aconteceu e, ao final, umas cento e cinquenta pessoas nos assistiram. Entre elas, várias que nunca tinham visto uma peça de teatro. Para a nossa feliz surpresa, um público muito gostoso, presente e participativo, que ajudou a quebrar aquela impressão anterior de quando rodamos a cidade convidando para o espetáculo. Para a minha alegria, pude me sentar no meio de todos e assistir a apresentação.
Enquanto desmontávamos o som, Marielle ficou rodeada pelas crianças que deixavam recados em nosso caderno e que não a deixavam ir embora. Custamos conseguir arrancar o nosso carro, pois todas elas o cercaram e ficaram nos gritando, falando que queriam mais e pedindo que ficássemos.
Sou de Palmópolis, moro em BH a pouco menos de um ano o pessoal de la é sempre muito carinhoso e participativo, mas realmente pra que todos saiam de casa para ver é bem complicado. Apesar de tudo espero que vcs tenham gostado de estar la, sinto muita falta de la.. Obrigaduh pela iniciativa espero que o projeto de vcs ganhe cada vez mais apoio. Bjos
ResponderExcluir