Tudo num dia só. Assim foi nossa passagem por Angola. Depois de mais um vôo cancelado, pra realizar tudo, foi preciso correr. Correr mas andar bem devagar - porque no trânsito de Luanda ninguém consegue correr.Tudo começou de manhã, na escola 4005 e num espetáculo para 1.200 crianças. Loucura geral já na passagem de som. Enquanto cantávamos "Pomar" do Palavra Cantada, já na segunda fruta todas as crianças que já arrumavam seus lugares no pátio, cantavam com a gente. Foi de arrepiar. A Dani confessou que ficou engasgada na hora. O espetáculo foi todo interativo. Todos cantavam tudo. Eram tantos olhares, tantas gargalhadas que nem dava pra contar. Até os que ficaram no fundo, atentos sempre. No fim, fomos agarrados, abraçados, segurados por todos eles. As professoras tiveram que entrar pra nos tirar. Foi até engraçado. Entramos para o camarim e a Dani (produtora) e o Tio Ito (técnico de som) ficaram escrevendo o nosso site em todos os cadernos de todas as crianças. Eles queriam nossos autógrafos (ó como estamos famosos!), mas como a professora não deixou no meio do tumulto, queriam o autógrafo deles (da Dani e do Tio Ito). Eles morreram de rir, mas escreveram caderno por caderno.
À tarde, fomos para o Parque da Independência. Pouco público. Mas muitas das crianças da escola da manhã, foram nos ver outra vez. No parque, muitos meninos cheirando cola. Na hora da roda, caiam porque não se aguentavam em pé. Que tristeza.Eles que, por todo o espetáculo, ficaram atentos, sentados, cantando, na hora de brincar não conseguiam. Sai pensando muito nisso. Sempre fazemos teatro na rua e com o público cheio de moradores de ruas, de bêbados, de cachorros, mas nunca para crianças que não conseguiam brincar. E eles gostaram do espetáculo (ficaram por todo o tempo, com olhos brilhando). Pensei em como experiências artísticas poderiam mudar isso. Desafiei os artistas angolanos para uma ação assim. Crianças podem ser pobres, podem passar por problemas... Mas, apesar de tudo e de todos, a brincadeira é transformadora, é o dever e direito da criança. Uma criança que não consegue brincar é a coisa mais triste do mundo.
À noite, ministramos a oficina brincante na Casa da Cultura Brasil Angola para artistas e educadores. Com duração menor do que as oficinas dos outros países, corremos e suamos juntos pra passar por todas as canções. E foi uma delícia. Cheios de vida e vontade, Angola tem artistas maravilhosos.
No fim da noite, fomos comemorar o aniversário da Dani, num restaurante lindo na beira do mar.
Um dia e tanto de Angola.
Relatos de Mariana
Fotos: Daniela Arruda
Um dia com paixão de uma vida inteira. É a África cheia de surpresas, cheia de contradições!
ResponderExcluir