quarta-feira, 31 de julho de 2013

Mineiros no Amazônia Encena na Rua

Na última semana, Porto Velho, Rondônia, tornou-se a capital brasileira do teatro de rua. A grande Arena Madeira Mamoré foi palco do 6o. Festival Amazônia Encena na Rua e recebeu  grupos de teatro de rua de São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Sorocaba, Cuiabá, Belém... e esses mineiros mambembes que adoram se aventurar com seu teatro cheio de "uais" e "trens" por esse Brasilzão.

Na maior responsabilidade (será que esses jecas aqui mereciam tanta honra?), fizemos a abertura do festival com o CONCERTO EM RÉ. E era tanta emoção que até São Pedro se rendeu às loucuras de Baco e mandou um inverno pesado pro calor amazônico, saudando a chegada do festival. Nosso rock foi aquecido pelas gargalhadas do público e, juntos, nos deliciamos com o super-macho Silas (que não "vaSILAS" no teste de macheza) e cantamos nota por nota do Real, todos os bichos que vivem no nosso dinheiro. Pra se ter uma ideia do frio da noite, os gaúchos do Oigalê tiveram que cancelar o espetáculo. Notícia de jornal que a gente só vê na Amazônia: "Gaúchos enfrentam frio em Rondônia".

Abertura do festival

Nosso "fã-clube" rondonense, completamente enlouquecido, é tão lindo e louco que deixa a gente sentir que somos mesmo a banda de desconhecidos mais famosa do mundo. Foi tanto autógrafo, tanta foto, tanto abraço, tanta palma que nem o frio atrapalhou o calor do público. Begônia, ao final, ganhou flores jogadas da platéia - era o que faltava pra sentir-se completamente diva. Chicão, sonhador e criador do festival, ainda comete a insensatez de ceder-lhe a coroa do seu reino imaginário e a palhaça, por uma noite, torna-se rainha (ou boba?) da corte de Porto Velho. Ousada, Begônia ainda atravessa o rio Madeira pra reinar (e palhaçar) por lá, ao lado de Quixote - cavaleiro de rua que ao lado do seu gari, Sancho, aventura-se na comunidade ribeirinha de São Sebastião. O Circo Mínimo, de SP, nos presenteou com sua tão urbana versão de Dom Quixote, feita ali, na beira do Madeira, prum povo tão simples e cheio de doçura no olhar. E encheu o nosso coração de fazer o NA RODA lá um dia.    

Begônia - rainha (ou boba?) da corte de Porto velho - capital do teatro de rua


Pelas manhãs, na beira do Rio Madeira, aconteciam nossos encontros com os artistas da cidade e do festival, na oficina brincante. Voltamos com um tantão de novas canções que aprendemos com os atores do Pará - gente que brinca tanto, tanto, que mesmo quando cresce ainda deixa brilhar a brincadeira na pele, na cabeça e no coração.

Grupo de brincantes com cara de Seu Matias na beira do Rio Madeira

Toda tarde, o festival promovia debates entre os grupos convidados. Juntos pensamos no ofício do artista de rua, na política pública cultural de cada cidade e compartilhamos histórias, ideais, sonhos e realidades. Há quem use microfone, a quem escolhe não usar. Há quem vai pra rua sem precisar de alvará, há quem pague taxa pra fazer seu espetáculo na praça. E adivinha qual é a única cidade que se paga taxas e se precisa de alvará pra artista de rua?  Quem for amigo do prefeito, avise a ele que é só aqui em Belo Horizonte é que é isso, tá?


Filosofia do espetáculo "João Pé-de-Chinelo", do Grupo Manjericão/RS

Nosso Shakespeare, com moldura de serragem dourada, ganhou a Arena Madeira Mamoré no segundo dia de festival. O público, cheio de delicadeza, calou-se pra ouvir cada detalhe do texto. COMO A GENTE GOSTA fez a gente rir e suspirar juntinho com a platéia, neste tempo e espaço paralelo pra onde o teatro nos transporta. E uma história contada e cantada assim em sintonia com o público é o maior presente que um ator pode viver.


COMO A GENTE GOSTA no segundo dia do Festival

NA RODA foi brincado no último dia de festival. Dia em que a arena estava mais cheia e a temperatura mais quente. E brincamos e cantamos, cheiinhos deste sotaque de Minas. Numa grande roda, cheia de artistas de todo Brasil de mãos dadas com esse público lindo, encerramos nossa participação no Amazônia Encena na Rua.

 NA RODA no último dia do Festival

Esse tal teatro é mesmo a arte do encontro. Encontro com outros que como nós escolheram o teatro como vida e a rua como palco. E conviver, conversar, rir e reclamar com outros artistas, faz a gente perceber que tem um tanto de trem diferente de um estado pra outro, mas um tantão de trem igual também. As bobagens dos meninos do Nativos Terra Rasgada de Sorocaba - que fazem chacota de qualquer gaguejadinha de uma mineira -, a brutalidade dos gaúchos do Oigalê  - que enfrentam e encantam o público com aquele vozeirão sulista, sem microfone, sem nada -, a força política dos Pavanelli - que, com as experiências que vivem em SP, vão dando exemplo pra gente lutar por aqui -, a alegria brincante dos Madalenas - que vai levando o encanto de Belém por onde passam -, a poesia do Tibanaré - lá de Cuiabá, num teatro delicado e sensível -, a coragem e força do Zé Regino, do Celeiro das Antas, e do Márcio, do Manjericão, que sozinhos enfrentaram aquela arena toda. 

O fato é que sempre que encontramos com toda a equipe de O Imaginário (coletivo de arte de Porto Velho) e observamos um trabalho feito com tanto, tanto, carinho e cuidado, sem qualquer apoio do estado ou do município, faz a gente pensar que o teatro é mesmo uma religião, uma família, um ato político, uma bacia que mistura o sensível e o provocador, o trágico e o cômico. Esse povo de Rondônia faz a todo tempo a gente repensar nosso trabalho, nossas vontades, nosso mundo, nossa arte e nossas vidas. E pra quem não conhece o tal do Chicão Santos, procure conhecer, porque o trabalho deste homem do teatro deveria ser aplaudido por todo o Brasil.



NA RODA do alto da Arena


Por fim, falemos do público. Gente que ama teatro, que tem fome de arte e que ocupa a Arena Madeira Mamoré, faça frio ou calor, com cobertor ou com leque, pra rir ou pra chorar. Plateia generosa, aberta ao jogo do teatro que é feito 50% por parte dos artistas e a outra metade pela cumplicidade com o público. Eram 3 espetáculos por noite, com linguagens artísticas diferentes e o público, firme e forte, construindo cada um deles junto com a gente. 

Obrigada pelo carinho mais uma vez, Rondônia! E só temos a dizer que vai ser sempre um prazer sem tamanho voltar a essa terra linda. E que, em breve, a gente festeje um novo encontro, nesta arena, na beira do Madeira. 






Viva o teatro de rua!
Relatos de Mariana Arruda
sobre sua primeira vez no 
Amazônia Encena na Rua
2013

5 comentários:

  1. que belezura!
    deu vontade de um dia perder esse maldito medo de avião e ir com tds os trovadores comungar prazer e arte com tda esse gente teatreira e rueira!
    tomara topar com os marias cutias, amigos queridíssimos.
    bju
    marton

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  2. Maravilhoso relato!!!! Vou postar no blog do grupo de teatro Wankabuki,eu sempre faço um apanhado geral do que rola no Festival, mas esse ano vou fazer diferente, postar relatos, confere aqui no nosso blog http://grupodeteatrowankabuki.blogspot.com.br/
    Amei todos os espetáculos de vcs, bjus

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  3. Texto lindo!!! É o retrato de nossas sensações...
    revivi a magia de cada momento compartilhado com todos.
    Voltamos diferente do que quando saímos. Uma emocionante experiência.
    Entramos no saco do maravilhamento para nunca mais voltar!

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  4. Mariana,sua sapeca!!!! Ao ler teu texto, me revi nesse lindo,enigmático e importante festival realizado pelo O Imaginário!!!! Já participei de duas edições do Amazônia Encena na Rua, sem os Trovadores, e sempre fico torcendo para termos espaço em nossa agenda para ir o grupo todo. Marton, tenha certeza, será uma bela e prazerosa comunhão!!!
    Oh, saudade dos rueiros desse Brasilzão!!! Oigalê, Manjericão, Chicão, Pavanellis, Nativos,vcs...
    Bjs!!!
    Suani

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  5. E a Begônia é uma DIIIIVAAAAA, mesmo!!!!
    Linda demais essa palhaça!!!

    Suani

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