A utilização da palavra no teatro, atualmente, se estabelece a partir de várias perspectivas de pesquisa, como a entonação, a inflexão, a ressonância, dentre outras. Todavia, a utilização da palavra como elemento simbólico, de representação imagética que traz uma referência não só inteligível, racional, com a significação exata na qual as convencionamos, mas também com a sensação que a palavra traz, ainda é muito pouco explorada. O teatro acústico, a imagem acústica de uma palavra é pouco utilizada como elemento cênico. Todos os trabalhos de montagem viabilizam e edificam uma construção coletiva em que os elementos cênicos utilizados como linguagem (como a luz, o cenário, o figurino, a sonoplastia – seja ela ao vivo ou não -, a dramaturgia) dialogam entre si na tentativa, na maioria dos casos, de construir um único objeto artístico: a obra.
Contudo, todas estas pesquisas não valorizam ou mesmo atinam para um elemento riquíssimo de diálogo com a obra, ou seja, o espaço no qual esta é encenada. O processo de montagem perpassa por várias linhas de perscrutação do espaço. Entretanto, pouco disto é utilizado na reverberação da palavra no espaço, posto que todas as utilizações do espaço visam apenas a sua percepção imagética física, em como a encenação, o texto, pode ser dado em vez de no palco italiano, na caixa preta, no teto do teatro. Estas tentativas apenas solidificam e começam a cristalizar um gênero. O teatro dito hoje como “contemporâneo”, no qual, a observação cênica no qual está sendo montado um espetáculo é um de seus principais elementos. Não há nenhum empecilho ou problema em encenar de tal forma. Contudo, um forte e essencial elemento desta pesquisa, em muitos casos, não é tratado com a importância necessária para sua valorização.
A imagem acústica de uma palavra, aquilo que ela representa não enquanto significação semântica, mas enquanto aquilo que ela provoca ao ser dita, como ela é dita, e de que lugar ela é dita. Tal atino não é hoje percebido como importância cênica e também fonte de pesquisa cenográfica. A utilização da palavra, não como sentido, mas sim daquilo que ela causa ao ser dita e, preponderantemente, de onde ela é dita, influencia na sua intensidade de recepção, assimilação e infere vertiginosamente na compreensão - talvez mais clara daquilo que quer ser dito – do tema relacionado.
Dessa forma, cria-se um novo elemento de pesquisa, com um grau de importância de estudo igualado aos demais hoje já estruturados. Tal noção propicia ao ator/pesquisador um maior leque de possibilidades de experimentação, posto que a palavra pode ser dita e pensada, não somente com a intenção e potência provenientes de sua voz numa pesquisa corporal de ressonância, para que ela soe mais ou menos intensa, rápida, distante, abafada, em um trabalho corporal. Mas, também, utilizando aquilo que o espaço no qual esta obra será encenada, perceber de onde aquele texto pode ser dito de tal forma que represente para o espectador algo mais claro de referências, de provocar sensações que, em muitos casos, acontecem apenas na cabeça do ator.
Leonardo Rocha.
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