quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O teatro de rua e a máscara

Mesmo com a utilização da máscara como elemento cênico não tendo nascido no século XV – sob o prisma do Teatro Grego, o , por exemplo – ela ainda é corriqueiramente associada, primeira e desavisadamente, ao teatro Renascentista, ou seja, a Commedia Dell´arte. Tal alusão pode ser explicada, talvez, pela consolidação dos tipos, personagens caracterizadas e bem definidas em corpo, humores e reações que esse gênero apreendeu durante os séculos.

Diferente da máscara cotidiana que busca ocultar e proteger, a máscara teatral revela a essência da persona representada, imprimindo uma identidade especial e genuína. Ao representar com uma máscara, o ator forçosamente entende como elevar a personagem para uma dimensão cênica, para além do cotidiano. Ela é um arquétipo que propõe ao ator a criação de um estado, com qualidade de energia específica, representando uma natureza que está além do convencional, da noção de representatividade e presença.

Alguns méritos encontrados em um espetáculo que trabalha com máscaras são associados, comumente, aos treinamentos para este tipo de representação. Todavia, a espontaneadade da improvisação com o público, na rua, faz com que qualquer método se desfaça. Assim, criou-se uma espécie de paradigma: teatro de rua = energia em cena = trabalho com máscara = treinamento específico. Apesar de verdadeiro, tal modelo de interpretação pode causar um travamento no ator, uma espécie de cerceamento da criação. Confesso que, dentre todas as máscaras que trabalhei e trabalho, as da Commedia são as que tenho maior dificuldade, justamente por conta desses arquétipos inquebrantáveis, inquestionáveis.

Paradoxalmente, por mais que proporcionem informações precisas sobre as características físicas e de personalidade de cada máscara, criam também um muro, uma represa, em que deve ser trabalhado aquilo que já é pré-determinado, ou seja, a aprimorar, aguçar e definir da melhor forma possível, as (mesmas) tipicidades de cada personagem.

Diferente das estruturas clássicas do teatro (como a grega, a romana) a Commedia Dell´arte parece se manter como um dos gêneros que mais influenciam as atuais montagens belo-horizontinas de teatro de rua que trabalham com máscara. Entretanto, é importante elucidar que “teatro de rua” é diferente de “teatro na rua”. Uma montagem pode ser apresentada em uma praça sem, todavia, ser “teatro de rua”, mas sim, “teatro na rua” (como o espetáculo "Till - A Saga de um Herói Torto", do Grupo Galpão).

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